Cozinhar, além de ser um ato de amor, é fruto de muito estudo e experiência. Assim, estudando a respeito das diversas cozinhas, deparei-me com a cozinha griô, aquela passada oralmente de geração a geração. Aqui no planalto central a cozinha griô ainda é presença marcante. Um bom exemplo é o que ocorre em Olhos D’água, um povoado do município de Alexânia, a 90 km de Goiânia, capital do Estado de Goiás: a famosa Feira do Troca de Olhos D’água.
Neste final de semana (4 e 5/06) é dia de feira. Ela ocorre duas vezes ao ano, sempre no primeiro domingo dos meses de junho e dezembro, tendo como seu maior atrativo o resgate de um importante traço cultural da região: a gambira ou catiragem e a comida regional, entre ela a griô. Durante muitos anos, essa foi a forma que a população encontrou para adquirir gêneros de primeira necessidade, que trocava por produtos artesanais. Se a sequência estiver certa esta será a 76ª feira.
O começo
Dizem que o melhor de Olhos D'Água é o seu silencio agrário, seu espírito de fazenda e seu denso grau de brasilidade. Universalmente falando.
Em 1974, Laís Aderne, estudante do curso de pós-graduação em Pedagogia da UnB, conheceu, numa viagem pelos arredores de Brasília, um lugarejo autenticamente goiano, de características bastante singulares. Diante da autenticidade e da simplicidade daquele lugar, Laís sentiu-se arrebatada.
Daí, juntou o povo, criou a Feira do Troca e esta veio a se tornar a tese final de seu curso de mestrado e mais uma tradição popular do povo brasileiro.
Para Brasília, aquele pequeno e curioso contato com uma realidade distante culturalmente e geograficamente próxima, representou meio que a descoberta de vida além das fronteiras do Distrito Federal para Olhos D'Água, representou o contato direto com os novos seres que habitavam a recém-inaugurada Nova Capital do país, que durante várias gerações, foi lenda que povoou o imaginário das pessoas do lugar.
E foi assim que tudo começou.
A troca é o ponto forte. Os turistas trazem coisas como roupas, sapatos, acessórios, utilidades domésticas usadas, mas em bom estado de conservação, e negociam diretamente com os expositores. O negócio é bom para os dois lados. Quem vem de fora deixa produtos úteis para os artesãos e leva para casa trabalhos artesanais como tapetes, bonecas, caminhos de mesa, chapéus, bolsas, esculturas, cerâmicas e adornos para casa e até produtos da roça como doces de frutas da região, queijos, ovos caipiras, feijão etc.
Mas o mais interessante, gastronomicamente falando, é a comida, a típica comida griô. Um dos pratos que mais me chama a atenção neste universo da feira é o tira gosto da folha de assa peixe. Quem me deu esta dica foi o jornalista Carlos Pontes, ele disse que o melhor lugar para degustar esta iguaria é no restaurante da D. Lázara.
Tipicamente brasileiro, este arbusto cresce espontaneamente e distribui-se geográficamente do Paraná à Bahia e na região Centro Oeste. Na medicina popular a Vernonia polyanthus é usada para problemas de pele, resfriados, problemas pulmonares, bronquites e tosse, etc. Ele é expectorante e diurético, entre outros. Nas terras onde cresce, recebeu várias denominações, como cambará-guaçu, cambará-branco e chimarrita.
Esta planta é ótima para o tratamento de problemas respiratórios em geral, como gripes, bronquites e tosses. O chá das folhas é muito utilizado como expectorante e calmante de tosses. Por isso, recomenda-se bebê-lo (adoçado com mel), em casos de gripe ou bronquite. Por sua ação expectorante, a assa-peixe também auxilia o tratamento de pneumonia. Na medicina popular também é utilizado para combater hemorróidas e para banhos nas afecções do útero. Empregada nas tosses, gripes e resfriados. Na gripe pulmonar, nas bronquites e tosses rebeldes, o ASSA-PEIXE diminui e acalma a tosse, aumentando a expectoração. Com seu uso, as doenças pulmonares, mesmo agudas, são subjugadas com eficiência, como as bronquites, pontadas e dores no peito. Na fraqueza pulmonar, abranda a febre e a tosse, aumentando o apetite e facilitando a digestão.
Para quem gostou, e não pode ir à Feira do Troca, fica aí a receita do tira-gosto de folha de ASSA-PEIXE.
Ingredientes
1 dúzia de folhas de assa-peixe colhidos na hora
½ xícara de amido de milho moído
2 colheres de sopa de tempero com sal, pimenta-do-reino branca moída, alho e cebola
2 ovos
Preparo
Quebre os ovos em uma tigela e coloque o amido de milho. Depois, o tempero. Misture bem essa massa para que as folhas sejam passadas nessa mistura antes de serem fritas.
Agora, passe as folhas do assa-peixe na mistura e coloque para fritar em óleo bem quente. À medida que elas são fritas, elas vão ficando com o aspecto de peixe frito. Daí o nome de assa-peixe para a planta. Vire as folhas durante a fritura.
Retire e escorra o excesso de gordura em papel-toalha.
Está pronto o prato.
Fontes: